“Foi mais surpreendente do que se tivesse morrido”
Quem nesta quarta-feira estiver em Roma pode ir ver o Papa. Dois dias
depois de ter deixado o mundo em espanto com o anúncio da sua renúncia,
Bento XVI vai estar numa audiência geral às 10h30 no Vaticano e irá
celebrar a missa de abertura da Quaresma na Basílica de S. Pedro, às
17h.
Se nada se alterar, será a primeira vez que o Papa
aparece em público aos fiéis depois da sua comunicação. Na terça-feira,
já era óbvio o frenesim na Praça de S. Pedro. Além das carrinhas e
câmaras de várias cadeias de televisão internacionais, e dos turistas
que habitualmente inundam Roma, viam-se várias pessoas com o L’Osservatore Romano
debaixo do braço: a manchete do jornal religioso irá ficar na História.
Em grande plano, aparece a fotografia de Joseph Ratzinger, sentado e
curvo.
11 de Fevereiro foi o dia em que o primeiro Papa desde há 600 anos, num gesto inédito, declarou que já não tinha vigor para continuar a exercer as suas funções. Vigor foi, aliás, a palavra que o padre José Maria Pacheco, jornalista há 25 anos que está na secção portuguesa da Rádio Vaticano, reteve na memória. “Usou duas vezes a palavra na declaração que fez, disse que a função que ocupa exigia força para ter capacidade de resposta que ele já não tinha.”
No obelisco da Praça de S. Pedro, José Maria Pacheco lembra que Bento XVI “tem cada vez mais dificuldade em andar”. Aponta para a fachada da basílica: “Do átrio ao altar o Papa tem que percorrer mais uns 100 metros, vai num estrado com rodas precisamente porque já não tem forças. Era um problema que se acentuava nos últimos tempos”, lembra. Viu-o de perto a 2 de Fevereiro, dia da apresentação do Senhor, na basílica. “Percebi que estava muito mais cansado do que há uns três meses. Havia quatro degraus para a cadeira e não conseguia subir, duas pessoas ajudaram-no.”
Lembrou-se também que em 2010 Ratzinger falou na hipótese, teórica, de renunciar, numa entrevista. Foi depois de ler que terá começado a ponderar essa hipótese há um ano, altura em que o Papa visitou a América Latina, pensou no seu encontro com o debilitado Fidel Castro, talvez tenha visto a “imagem de alguém que tem dificuldade em renunciar ao poder mesmo avançando na idade”. Por último, na semana passada, num concerto para o Papa e para o Presidente da República, Giorgio Napolitano, este disse que estava a concluir as suas funções. “E as pessoas pensaram, alguém que termina um mandato e o Papa não tem alternativa senão continuar nesta situação…”
Afinal tinha. Destas pontas soltas lembra-se agora o padre José Maria Pacheco, depois da surpresa “enorme, enorme, enorme”. Tanto que quando alguém o anunciou, na rádio do Vaticano, os próprios jornalistas ficaram incrédulos. “Foi mais surpreendente do que se tivesse morrido pelo inédito da decisão. Eu era um dos que acreditavam que ele era um homem para fazer isso, mas a minha reflexão é que, quanto mais uma pessoa avança na idade, menos forças tem para tomar uma decisão.”
"Há regras que podem ser quebradas"
Muitas das pessoas que ouviu “tiveram dificuldade em aceitar a decisão”, alguns argumentaram que o “Papa não devia desertar” ante os problemas que a Igreja enfrenta, “dificuldades com algumas orientações que não são respeitadas” - e, sim, também os escândalos de corrupção no banco do Vaticano, e de pedofilia. Outros referiram a tradição. E o seu gesto abre portas para mais mudanças? “O facto de quebrar uma tradição mostra que é inovador e que há regras que podem ser quebradas.”
11 de Fevereiro foi o dia em que o primeiro Papa desde há 600 anos, num gesto inédito, declarou que já não tinha vigor para continuar a exercer as suas funções. Vigor foi, aliás, a palavra que o padre José Maria Pacheco, jornalista há 25 anos que está na secção portuguesa da Rádio Vaticano, reteve na memória. “Usou duas vezes a palavra na declaração que fez, disse que a função que ocupa exigia força para ter capacidade de resposta que ele já não tinha.”
No obelisco da Praça de S. Pedro, José Maria Pacheco lembra que Bento XVI “tem cada vez mais dificuldade em andar”. Aponta para a fachada da basílica: “Do átrio ao altar o Papa tem que percorrer mais uns 100 metros, vai num estrado com rodas precisamente porque já não tem forças. Era um problema que se acentuava nos últimos tempos”, lembra. Viu-o de perto a 2 de Fevereiro, dia da apresentação do Senhor, na basílica. “Percebi que estava muito mais cansado do que há uns três meses. Havia quatro degraus para a cadeira e não conseguia subir, duas pessoas ajudaram-no.”
Lembrou-se também que em 2010 Ratzinger falou na hipótese, teórica, de renunciar, numa entrevista. Foi depois de ler que terá começado a ponderar essa hipótese há um ano, altura em que o Papa visitou a América Latina, pensou no seu encontro com o debilitado Fidel Castro, talvez tenha visto a “imagem de alguém que tem dificuldade em renunciar ao poder mesmo avançando na idade”. Por último, na semana passada, num concerto para o Papa e para o Presidente da República, Giorgio Napolitano, este disse que estava a concluir as suas funções. “E as pessoas pensaram, alguém que termina um mandato e o Papa não tem alternativa senão continuar nesta situação…”
Afinal tinha. Destas pontas soltas lembra-se agora o padre José Maria Pacheco, depois da surpresa “enorme, enorme, enorme”. Tanto que quando alguém o anunciou, na rádio do Vaticano, os próprios jornalistas ficaram incrédulos. “Foi mais surpreendente do que se tivesse morrido pelo inédito da decisão. Eu era um dos que acreditavam que ele era um homem para fazer isso, mas a minha reflexão é que, quanto mais uma pessoa avança na idade, menos forças tem para tomar uma decisão.”
"Há regras que podem ser quebradas"
Muitas das pessoas que ouviu “tiveram dificuldade em aceitar a decisão”, alguns argumentaram que o “Papa não devia desertar” ante os problemas que a Igreja enfrenta, “dificuldades com algumas orientações que não são respeitadas” - e, sim, também os escândalos de corrupção no banco do Vaticano, e de pedofilia. Outros referiram a tradição. E o seu gesto abre portas para mais mudanças? “O facto de quebrar uma tradição mostra que é inovador e que há regras que podem ser quebradas.”
Mais do que críticas, o padre jesuíta Nuno Gonçalves, director da Faculdade de História e Bens Culturais da Igreja, da Pontifícia Universidade Gregoriana, de Roma, notou em algumas pessoas “tristeza” - que também sentiu. “A relação com o santo padre é filial, portanto o pai não se perde”, analisa. “Mas senti também que as pessoas têm admiração pelo Papa, pelo que fez pela Igreja ao longo destes anos, e porque manifestou uma grande liberdade e desapego ao cargo.”
Respeito, admiração e gratidão foram, de resto, as palavras usadas na carta que recebeu da Companhia de Jesus sobre a renúnica do Papa. Um gesto que vai ficar na História, por ser “tão raro”. “As outras renúncias aconteceram em circunstâncias tão diferentes que não é possível comparar.” Por isso este é, para qualquer cristão, um momento de “grande intensidade” e estar em Roma acrescenta algo “muito especial”. “É mais fácil ir à Praça de S. Pedro e respirar esse ambiente.”
Domingo, o padre Nuno Gonçalves diz que lhe “apetece imenso” ir ver o Papa à janela. Afinal, já “vão ser poucas as ocasiões para manifestar a gratidão” a Bento XVI. No último andar de um prédio na Praça de S. Pedro, uma faixa branca com letras azuis tem escrito a graffito. “Caro papa estamos próximos.”
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