quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

História da Dança - parte 3

Ritmos Africanos
 Introdução

Ao descrever-mos
aqui alguns tipos de dança, que irão dominar o nosso site de danças
africanas, vamos falar mais das danças dos cinco Países Africanos de
expressão portuguesa, o que não significa que não iremos dar realce as
outras danças do Continente Africano.


Ritmos Africanos

Mistura de sons, ritmos e movimentos tradicionais com realce a espontaneidade dos corpos no passo certo ao som da música africana. (dançada em linha)

Danças a par

A proximidade de dois corpos num só movimento, e a inevitável sensualidade em unissom são notórias enquanto dançam.

 Ritmos

Ao ritmo do Semba, Funaná, Kuduro, Sakiss, Puita, Marrabenta, e outros sons da música folclórica, são dançadas em pequenas coreografias, trabalhando assim os movimentos da anca, o rebolar da bunda (1), e a facilidade de juntar a agilidade dos braços, pernas e cabeça, num só movimento culminando num trabalho de ritmo corporal. 

Tipos de dança típicos de cada país

Angola

 Kizomba




Kazukuta                    Kuduro


Rebita



Semba               Kabetula

Cabo Verde

 Coladera                             Contradança


Funaná                            Morna


Kola San Jon

Guiné-bissau

 Baranta


Moçambique

Marrabenta


Mapiko


São Tomé e Príncipe

 Puita                                          Ussúa


Dexa                          Bligá



A música e dança em Angola
Os bailes em Angola, eram organizados, entre amigos, que se definiam como "as turmas", nestes bailes dançavam ao som dos instrumentos como a dikanza (1), o ngoma (2), o apito, a ngaieta (3), e o acordéon, que eram os mais usados na época nos ritmos como o semba, a rebita, a kazukuta kabetula os rumbas e muitos outros tocados nos 50/70, à qual chamamos " música e dança dos cotas" (4).

Nesta época eram consumidos outros géneros de música mas adaptados ao nosso estilo de dança; muitas fusões foram feitas em relação aos ritmos provenientes de outros continentes fluindo assim nos estilos como o Bolero os Tangos, as Plenas e tantos outros sons, que eram " soletrados nos pés " (5) de quem sabia dançar.
A boa dança era praticada nos bairros suburbanos de Luanda, nas ruas e nos quintais.

Estes estilos chamados outrora "dança dos operários" ou dos marginais eram as dançadas pelos grandes farristas (6), ai depois do quintal, foram levadas para as salas de bailes, que deixou de ser só dos operários porque a pequena burguesia também já dançava, uns meios escondidos, pelo motivo de serem mal vistos nessa época. Ao som do semba (7) era dançado o semba que era chamado a dança da umbigada, que deu origem ao samba brasileiro.
Os bailes frequentados pelas "turmas" eram chamados as boas " kizombadas " (8) ou "festas de quintal".

Nos anos 80 deu-se uma revolução nos estilos musicais e na dança, muitos nomes surgiram e outras fusões aconteceram: a dança semba, alguns começaram a chamar kizomba que significa "festa" isto quer dizer que passou de expressão linguística a dança. A entrada do zouk, influenciou muito o estilo musical que esteve a perder a sua raiz que até foi chamado semba-zouk, elemento que deu muita polémica, mas que ainda continua com o nome de kizomba, mas que também já tem um corpo como música e dança kizomba. O zouk love, e a tarrachinha, têm dado outros estilos na forma como dançamos nos bailes, porque os movimentos sensuais são concêntricos na sensualidade no rebolar das ancas com movimentos muito sexuais.
Nota: 1- dikanza (reco reco) 2- ngoma (batuque) 3- ngaieta(gaita) 4- cotas (mais velhos) 5- soletrado nos pés (dançar como se estive a escrever) 6- grandes farristas ( homens de festas), 7 semba (estilo de dança e musica angolano) 8 kizombadas ( grandes festas).
Kizomba

Kizomba é uma terminologia Angolana da expressão linguística Kimbundo que significa"festa".

A expressão Kizomba, como dança nasceu em Angola nos anos 80 em Luanda, após as grandes influências musicais dos Zouks, e com a introdução das caixas rítmicas drum-machine, depois com os grandes concursos que invadiram Angola, desde ai essa expressão se ouvir e manteve, passando pelo Cavalinho, e o kizomba corrida, também nesta época apareceram as kizombas acrobáticas dançada por dois rapazes, mas também é de salientar que as grandes farras (1) entre amigos nos anos 50/70 eram chamadas Kizombadas" (2) porque nesta altura não existia kizomba como expressão bailada e nem musical. Voltando aos anos 50/60 em Angola já se dançava a o Semba, Maringa, Kabetula, Kazukuta, Caduque que deu origem origem a Rebita e outros estilos musicais tipicamente de Angola, mas também outros estilos provenientes de outros continentes, influenciaram música, e a dança, como o Tango, a Plena o Merengue etc., estes eram dançadas nas grandes farras já ao nosso estilo.


Estes estilos de dança outrora eram chamadas danças da "Umbigada"ou danças do "umbigo" só para lembrar que alguns desses estilos têm influências de uma dança portuguesa que se chama "Lundum" (3) que também era dançada a pares, mas que foi proibida de ser dançada porque era considerada dança erótica. Já naquela altura com esses estilos já se fazia nomes nos bailes porque existiam grandes bailadores que também deram uma grande ênfase ao levar estas danças aos bailes, nomes como Mateus Pele do Zangado, João Cometa, e Joana Perna Mbunco, Jack Rumba eram os mais apontados porque estes ao dançarem escreviam no chão, as passadas (4) eram notórias nos seus estilos de exibição ao ritmo do Semba. As passadas como o corridinho a meia-lua e as saídas laterais eram as mais usadas pelos cavalheiros.

1- Farras (festas)
2- Kizombadas (grandes festas)
3 Lundum dança da umbigada
Portuguesa proibida na época
4- Coordenação de passos




Kuduro
Estilo de música e dança Angolana.
Dança recreativa de exibição individual ou em grupo.
Fusão da música batida, com estilos tipicamente africanos, criados e misturados por jovens Angolanos, entusiastas e impulsionadores do estilo musical, adaptando-se a forma de dançar, soltando a anca para os lados em dois tempos subtilmente, caracterizando o movimento do bailonço duplo.
Da dança Sul-Africana denominado " Xigumbaza ", que significa confusão, que era dançada pelos escravos mineiros, enquanto trabalhavam mudos, e surdos só as vozes das botas se faziam ouvir como um canto de revolta, adaptando-se ao estilo musical Kuduro nasce, o Esquema ou Dança da Família.
Dança da Família por ser dançado geral em grupo exercitando o mesmo passo varias vezes em coreografia coordenada pelos participantes na dança. Dançada normalmente em festas ou em discotecas.

Rebita
É um género de música e dança de salão angolana que demonstra a vaidade dos cavalheiros e o adorno das damas. Dançada em pares em coreografias coordenadas pelo chefe da roda, executam gestos de generosidades gesticulando a leve cidade das suas damas, marcando o compasso do passo da massemba (1). O charme dos cavalheiros e a vaidade das damas são notórios; enquanto dança se vai desenvolvendo no salão as trocas de olhares e os sorrisos entre o par são frequentes. É dançada em marcação de dois tempos, através da melodia da música e o ritmo dos instrumentos.

Semba
É uma dança de salão angolana urbana. Dançada a pares, com passadas distintas dos cavalheiros, seguidas pelas damas em passos totalmente largos onde o malabarismo dos cavalheiros conta muito a nível de improvisação. O Semba caracteriza-se como uma dança de passadas. Não é ritual nem guerreira, mas sim dança de divertimento principalmente em festas, dançada ao som do Semba.


Kazukuta
É a dança por excelência que é de sapateado lento, seguido de oscilações corporais, firmando-se o bailarino, ora no calcanhar, ora na ponta dos pés, apoiando-se sobre uma bengala ou guarda-chuva. Os tocadores usam instrumentos como latas, dikanzas, garrafas, arcos de barril e, para algumas variações rítmicas, a corneta de latão e caixa corneta. Os bailarinos trajam-se de calças listadas e casacas devidamente ornamentadas, representando alguns postos do exército, cobrindo o rosto com uma máscara, representando alguns animais, para melhor caricaturar jocosamente o inimigo (o opressor). 

Kabetula
É uma dança carnavalesca da região do Bengo, exibida em saracoteios bastante rápidos seguidos de alguns saltos acrobáticos, os bailarinos apresentam-se vestidos de camisolas interior, normalmente brancas, ou de tronco nu de duas Ponda saia feita de lenços de cabeça em estilo rectangular fixada por uma Ponda (cinta vermelha ou preta), amarrando um lenço na cabeça e outro no pulso, utilizando também um apito para a marcação da cadência rítmica do "comandante"
Nota : In " Revista Carnaval - A Maior Festa do Povo Angolano ", de Roldão Ferreira, editado pelo Governo da Província de Luanda, Direcção Provincial da Cultura, 1ª Edição-2002, paginas 18 e 27 Kazukuta e Kabetula.
O texto de Kizomba foi redigido por Pedro Tomás (Petchu) Bailarino Coreografo invetigador professor de Kizomba Semba e e outros ritmos tradicionas africanos e Lito Graça (músico).

A música e dança em Cabo Verde
Os bailes em Cabo Verde tinham e têm uma função fundamental na organização de toda a comunidade à volta de momentos de convívios e confartenização-"quando dançamos ficamos e felizes"- dizia um velho conhecido.

As músicas estão ligadas por um cordão bem forte, derivado talvez da relação muito estreita das suas origens primordiais.

Os bailes eram animados por grupos acústicos com violino, violão, cavaquinho, bandolim ou banjo, que mantinham uma relação estreita com o lançador que com os seus passos e momentos de improvisação influenciava e acompanhava o músico solista sua maneira de tocar e este, por sua vez, a ele.
Assim nasceram nas salas e nos terreiros músicas e danças que hoje fazem parte do panorama cultural de Cabo Verde.

É claro que a dança também teve um e transformação que acompanhou os tempos e a mudança de mentalidade, como também teve influências exteriores muitas delas, de fraca representatividade.

Aquilo que era gosto de dançar, tornou-se com o tempo no gosto pelo sensual, pelo ligeirismo e banalidade que atinge por vezes o vulgar.

É de realçar que algumas danças cabo-verdianas acabaram por cair em desuso, perdurando somente o género musical correspondente, como é o caso do Landum.
As danças de pares (Coladera, Morna, Funaná, Mazurca) " são danças em que o homem possui, como quase toda a cultura do mundo da dança, o cavalheiresco modo de dirigir os passos a seu belo gosto. A sequência dos passos está dependente do virtuosismo dos dançarinos e, de certa maneira, do espaço da sala" 

Morna
É o estilo mais lento da dança de que bem traduz o sentimento cabo-verdiana como por exemplo a tristeza, a nostalgia, e os problemas existentes.
Dança-se em dois estilos essenciais, que são estilo lento, e estilo mais virtuoso, ou seja " talvez mais vivo e dinâmico" a que se chamara de " estrimbolca", à base de contratempos (talvez a origem da dança Coladera terá surgido neste andamento, estilo lento fazem as seguintes marcações: os passos são feitos em marcação quaternário
(dois passos à frente, dois passos atrás)

Coladera
É um estilo mais vivo que a Morna, cadência quaternária, em que a relação do cavalheiro e da dama é feita junta num arrastar de pés, com momentos de improvisação do cavalheiro que se afasta sobre o olhar da dama (1).

Funaná
Género de música e dança cabo-verdiana, característico da ilha de Santiago que tradicionalmente animava as festas dos camponeses. É a mais frenética e rápida das danças de pares de Cabo Verde, geralmente acompanhada de uma concertina, onde o ritmo é produzido por esfregar de uma faca numa barra de ferro.

Nesta dança o cavalheiro joga sobre o ritmo uma base andante de longos solos compostos por momentos fortes de pausa /exaltação até ao auge ou "djeta", gritos, exibindo a todos a sua virilidade e dotes de grande dançadores.O Funaná é conotada como dança de transe.

Contradança e Mazurca
São danças de grupo importadas das cortes europeias que geralmente tinham na base estrutura coreografadas com mandadores, que acabaram por sofrer alterações ao chegarem ao terreiro.

Na Mazurca de três tempos, alegre e sincopado, o papel dos pares está intimamente ligado à movimentação em grupo.
São géneros dançados sobretudo nas ilhas Santo Antão, Boavista e São Nicolau.

Kola San Jon
Jogo dos tambores e dos apitos no dais de São João, ligado ao ritual da fertilidade da terra no solstício de verão. Os pares batem-se cadencialmente entre si. Dança da Umbigada.
Nota: texto gentilmente cedido por António Tavares (Bailarino Coreógrafo).

São-Tomé e Príncipe
Ússua
Dança de salão, de grande elegância e finuria (uma espécie de mazurca africana), em que os pares são conduzidos por um mestre-de-cerimónias, ao ritmo lento do tambor, do pito daxi (flauta) e da corneta. Todos os dançarinos envergam trajes tradicionais: as mulheres de saia e quimono, xaile ou pano de manta; os homens trazem chapéus de palhinha e usam no braço uma toalha bordada (que serve para limpar o suor do rosto). 

Dexa
Típica da ilha do Príncipe de raízes angolanas. Ao ritmo de um tambor e de uma corneta, diversos pares executam elegantes dan
A dexa é dançada durante horas inteiras, apenas com ligeiras modificações na sua toada musical. ças de roda. As letras são quase sempre humorísticas, ou mesmo de escárnio, e implicam uma réplica da parte do visado.

Puita

Provavelmente com raízes Angolanas, a puita é uma dança fortemente erótica, em que o tambor avança de forma frenética, obsessiva, sensual, pela noite dentro. Homens e mulheres formam filas indianas e, à mistura com alguns se mi rodopios, fazem entrechocar os corpos de forma sexualmente explícita. Quando um parente deixa este mundo é da praxe executar-se, em dias de nozado, uma puita em sua homenagem. A falta de cumprimento a este ritual pode ocasionar desventuras na família. Mas a puíta é tocada em muitas outras ocasiões, sendo uma das formas de música mais populares em S. Tomé.

Parecido com a puita mas encomendado com outros objectivos, o d'jambi é um ritual com poderes curativos, semelhante à macumba brasileira. Os curandeiros, ao dançarem, entram em transe, submetendo então o doente a práticas rituais onde são invocadas figuras sobrenaturais e estabelecidos contactos com espíritos de indivíduos falecidos. São também frequentes fenómenos de insensibilidade ao cansaço e à dor (dançada durante a noite inteira, caminhar sobre brasas, ferir o próprio corpo, etc.). As autoridades coloniais e religiosas tentaram sempre proibir os d'jambi devido às suas óbvias conotações com a feitiçaria e os rituais animistas do continente africano. 

Bligá (ou jogo do cacete)
É um misto de dança e jogo lúdico, em que a destreza e o vigor físico do jogo do pau transmontano, aliam-se a uma sofisticada corporalidade e gestual idade que fazem por vezes lembrar certas artes marciais orientais. O bligá (que significa brigar) foi certamente, tal uma das danças que deu origem a capoeira. Este estilo era usado pelos escravos, que usavam como uma arte de autodefesa sem que as autoridades se apercebessem, os gestos são, a maior parte das vezes, mimados (transformando assim a acção em representação) em vez de serem executados explicitamente. 


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